domingo, 24 de outubro de 2010

POEMA HISTÉRICO

27.02.2010

Histérico
Meu pensamento jaz estéril
Meu coração se esvai infértil
Histérico

Nada como um poema histérico
Pra me socorrer diante de tanto tédio!

SOLIDÃO

A minha solidão repousa em muitas camas
e a sua infâmia não mostra alguma exatidão.
Transita entre longes passos inconclusos
e só no escuro da incerteza mostra seu clarão.


Minha solidão não é muda nem passageira.
Ela vagueia por onde passa a indignação.
Cala e sofre quando não encontra beira,
mas enlouquece quando me olha, minha solidão.

E nos escaninhos de minha alma cria novos fluxos.
Reverbera iluminar qualquer escuridão
mas nunca cessa impedernida, minha solidão.

E se nos instantes em que só-eu-só trafego em mim
tão mais me encontro e me (re)construo em vão,
é que alguém me olha ao longe e me deixa ser na solidão.

TRÊS POEMAS ANALFABETOS

I

ANAL-FABETO
(ALFA)(BET)IZ(A)DO

Toda letra é analfabeta.



II

A máquina que antecede a escola
A máquina que antecede a letra
A máquina que antecede o alfa
(e também o beta)

é anal.


III

O alfabetismo é evacuação.
e a alfabetização é analfabetização.

segunda-feira, 18 de outubro de 2010


a mentira da linearidade
do amor

a angústia da unidade
do vazio

a ordem da multiplicidade
do ser

a doçura da complexidade
dos destinos

a dureza da fragilidade
do soco

a beleza da serenidade
dos deuses

a certeza da flexibilidade
dos sexos

... a hegemonia do cantar!

zen-dia-bólica

pálida face . e, de tão zen, perturba intranquila os olhos de quem vê . (des)frauda os desejos mais ternos e os invoca outros deuses . adeuses . rubi . sua beleza é um rubi 'inda não talhado, mas polido . e eu a admirá-la a calmaria turbulenta de suas mãos . lindeza . me olha fundo a alma com tal exatidão que eu, sem modéstia ou temor, fico atordoado . o aumentativo que eu lhe imponho é doce admiração . invejo-a . e, no entanto calo . alguma nossa senhora com seus cabelos sobre o mar . inspiração . docura d'algum lugar . d'algum clarão . abraçá-la é luz . claro na minha escuridão . por onde andavas por dentro de mim que eu não te via? . iguana a me olhar . perto de ti tudo vira sonho . arquétipo do silêncio do clarão . descanso intranquilo . teu olhar, de tão calmo arrebenta as forças nirvânicas dentro de nós e faz temporal . calmaria e furacão . companhia e solidão . e eu só desejo beijá-la e seguir em vão .

ESTRANGEIRO

(19/07/10)

Eu não mereço coisa alguma desse mundo
e nem o quero.
Eu só quero o que me andam
os meus próprios pés
e, animado por minhas proprias vicissitudes
rendem-se a mim
como os barcos ao convés.
Deste mundo nada me detém
nada me contém,
nada me abstém.
Tudo o que eu quero é habitá-lo
e só.
Redesenhá-lo em suas imensidades
nos redemoinhos longínquos den' de mim
e onde houver só vazio,
fantasiá-lo em meu desejo de ser o mar.
Astronauta estrangeiro deste mundo
sou eu mesmo a cantar suas belezas
e, mesmo em face de tanta delicadeza,
sou eu mesmo a estragar.

Eu não mereço coisa alguma deste mundo
mas ele teima em mim, de mim, me dar.