segunda-feira, 21 de novembro de 2011

o sonho



                            para carla guerra


os sonhos são os impasses do não dito
                    do interdito
intercalado entre os mudos e as palavras
entre os fantasmas e as cascatas
entre os desejos
e os beijos

sonhos são para serem sonhados e só.
                     arados
inspirados de alguma qualquer ilusão
presos nas fagulhas da imensidão
nas miríades de medos
e na exasperação

sonhos são sonhos e nada mais
nada mais além do cais
além do caos
dos vãos
dos não
na desilusão
de algum de nós

sonhos são para serem fertilizados
de amores vãos
quiçá,
uma constelação
de encantos
e sons.

LEMBRANÇAS

na plenitude do tempo
penso
reticenciando o momento
e findando o que não esqueço.

A POESIA PASSA PELA GRADE (poema encarceirado num presídio feminino)

frio
nubla cor opaca
de alguns olhos
frívolos

julgaram-na pelo que é,
e a libertaram ao que não é

e a poesia
paira
muda e nua
feito estátua de sal
neste imenso lamaçal
de confusões e sopros

na ânsia cega de ser alguém
nesse imenso vasto vão de mim
aquém
nega-se e negam-na

das grades não passa o amor
enobrecem sonhos
as dignidades
as sobriedades

pelas grades não entra o pão
o perdão
a indignação de algum sol
só a solidão de um amanhã sem paz.

[mas há rumores de alguma alegria]

só a poesia passa pela grade
carregada de luz e som
cânticos na escuridão
... e suas humanidades.

só a poesia passa pelas grades