terça-feira, 13 de dezembro de 2011

FARSA

...e aí a Vida vem,
          e estraga tudo.

depois, com calma,
o Tempo passa.

e a gente vê
que tudo estava,
como nunca deixou de estar.

e toda Dor
         dis-farça!


(Passará - Chico Buarque)

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

o sonho



                            para carla guerra


os sonhos são os impasses do não dito
                    do interdito
intercalado entre os mudos e as palavras
entre os fantasmas e as cascatas
entre os desejos
e os beijos

sonhos são para serem sonhados e só.
                     arados
inspirados de alguma qualquer ilusão
presos nas fagulhas da imensidão
nas miríades de medos
e na exasperação

sonhos são sonhos e nada mais
nada mais além do cais
além do caos
dos vãos
dos não
na desilusão
de algum de nós

sonhos são para serem fertilizados
de amores vãos
quiçá,
uma constelação
de encantos
e sons.

LEMBRANÇAS

na plenitude do tempo
penso
reticenciando o momento
e findando o que não esqueço.

A POESIA PASSA PELA GRADE (poema encarceirado num presídio feminino)

frio
nubla cor opaca
de alguns olhos
frívolos

julgaram-na pelo que é,
e a libertaram ao que não é

e a poesia
paira
muda e nua
feito estátua de sal
neste imenso lamaçal
de confusões e sopros

na ânsia cega de ser alguém
nesse imenso vasto vão de mim
aquém
nega-se e negam-na

das grades não passa o amor
enobrecem sonhos
as dignidades
as sobriedades

pelas grades não entra o pão
o perdão
a indignação de algum sol
só a solidão de um amanhã sem paz.

[mas há rumores de alguma alegria]

só a poesia passa pela grade
carregada de luz e som
cânticos na escuridão
... e suas humanidades.

só a poesia passa pelas grades

domingo, 23 de outubro de 2011

eu só creio
no amor de júpiter
e no sexo
das estrelas

tudo o mais
são teorias lunáticas
             ou besteiras!





domingo, 2 de outubro de 2011

nas linhas tortas
em que me inscrevo
alguns amores acerto
outros,
              eu erro.



sábado, 17 de setembro de 2011

APAIXONO-ME NOVAMENTE

nada há por detrás dos escombros
só a fumaça
esfuziante embriaga
os sonhos tropes dos famintos.
há desvalidos por toda parte!
            e todo passado arde
onde todo futuro parte.
sirenes de pensamentos loucos enlouquecem
movimentos marítmos bruscos
entontecem,
e enjoam,
e inauguram uma outra paz

apaixono-me novamente!





enquanto houver algum raio
de sol ou febre
alguma arte que imite
a vida, ou fere.
alguma ferida.
haverá mistério e encanto
dentro do infinito

e seremos um pouco tristes.






A GRADE AGRIDE
A MORTE


A GRADE NÃO AGRIDE
A ARTE



vivo a vida
sobrevoando
nos ápice dos descaminhos da dor.
sinto amor
e me revivo
iluminando alguma ilusão de amor

o amor é mesmo assim
deve ser depurado e aguado
c´oas águas de desilusão e dor
no cadinho da paciência
na quietude das diferenças
no instante dulcíssimo
de algum horror

e se me houverem desprezado
à sorte de morrer de amor
agradeço e encanto-me de medo
na certeza de ter tido na vida
a febre de sentir calor

eu continuo sobrevoando
nas encruzilhadas de amor e dor
reunindo o que me encanta
revolvendo ao ser o amor.

terça-feira, 12 de julho de 2011

cavo uma cova
e enterro-me
encantado de amor e sonho.
risonha é a dor que
nos amortece a queda
de existirmos e sermos sós.
lindos mesmos são os cavalos-marinhos
que nadam com uns seus alguns
e eu, que sem alguns de mim
vivo, sou risonho!

se há flores e moscas por toda parte
se a maré sempre enche ao findar da tarde
o que impera sobre meu amor risonho?
da janela
vejo a estrada
caminhos
             vários
nas encruzilhadas
de meu ser.
a reta
da Dutra
ofusca a visão.

E Rio, em Sampa!

 

PRECE AO MEU POVO


brotei-me
assustado como uma
flor silvestre
e, intimamente ferido
no dentro do sonho
de alguma noite fria em mim.
brotei-me em flor e rabiscos
em espaços, luz e dor.

a violência dos homens
é mesmo uma questão de amor

nos longes de mim
nesses espaços interstícios
de minha fome, não há cor.
desejo dias melhores para o meu povo
risos e pães fartos à mesa
uma sombra junto á bananeira
e se deus me permitir uma mais delicadeza
haja flores em canteiros
para que brote , lindo
o meu povo.

meu povo precisa de flores e só!

sábado, 25 de junho de 2011

sobre a beleza dessa menina. há dúvida. seus cabelos loiros-pretos embranquecem a noite das mentes dos homens impuros. como eu. olhos de nossa senhora. mãos de moças más. sofrida e atrevida. menina a bailar. quando essa menina passa é como se houvesse criança a brincar e, no entanto a noite clama com seus seios me acordar. oxum a me enfeitiçar, mas eu sou yemanjá. a beleza dessa menina está em que não há. no que finge que não há. no algum possível será? e permanece em mim a vontade de a beijar.
a namorada
gay
vingou.
o pai, a mãe,
o ex
não ressuscitou.
a infâmia
da fama,
o masoquismo
estético
na ponta
da lança
fincou

                      fundo
                      rompeu
                      c´o passado
                      acordou!

a namorada
gay
brincou
adolescente.
continuou infame
levando a fama

tudo é erro
que passou.

todo erro passa rápido e não há dor.
tudo comida
(fria)
tudo caminha
(vida)

tudo quente
tudo frio

tudo queimando
na minha
marmitinha

                  de horas.



MENTE

MENTE

                           (IN)VADE

INVAGINO

IMAGINAÇÃO

VENTO

você
                  vê a
                                     pos
                                      si
                                      bi
                                       li
                                     da
                                     de

                                              in...
                                                    ...do


e eu,
piso
nela.

CIRANDEIRO



Cirandeiro
Cirandeiro
Abre a porta do quintal para nóis entrá

Tira a dança
Faça a festa
Que hoje é dia de ciranda, cidandá



Na ciranda de Bento e de Lia
Não falta renda nem chita
Cada rodada de um sonho
Damos um nó nessa fita



Antoninho, Antoninho
Meu santim protetô
Sete vezes eu lhe inodo
E só tiro se o senhô
O mais cedo desde hoje
Me valê a meu favo
Me trazendo um novo agrado
Me trazendo um novo amô


Eita, cirandeiro!

  

ele não tem raiva dos
bandidos
só pena. pena e medo.

eu, que não menos bandido
banido de minha língua-algema
tenho raiva. raiva e pena

ele não sente raiva
porque a raiva é eterna
e eu, a sinto justamente
pela sua eternidade
como é eterno seu amor pelo conrinthians
como meu amor por essa moça
minha vontade de ser bom
sua vontade de dar as mãos

e eu, que gosto dos bandidos
sinto alegria de sua não-raiva
raiva escondida em algum quartel
ou brincando de treinar uma quadrilha
ele, algemado à língua de sua mãe
pena, sofre, resiste e, só não morre
pela raiva
de alguém que mata
por nós, por pena de nós
e a gente se envenena de linguagens

segunda-feira, 20 de junho de 2011

OS ROSEIRAIS





Antes,
eu era jardineiro
e vivia a vida
podando rosas
e limpando quintais inteiros
          [e o sol batia forte na cabeça
          e só minha sombra contemplava a beleza
                     dos roseirais]

Depois,
virei psicólogo
e continuava
a podar rosas
tão envoltas em seus monólogos
          [não havia mais sol, nem escuridão
          só uns olhos assustados na solidão
                    dos roseirais]

Hoje,
sou poeta
e, só recolho
as rosas caídas
dos sonhos que o amor secreta
          [faço o sol, invento a dor, germino
          cuido bem das palavras e me termino
                    como os roseirais]



Só há imensidão no incognoscível vão entre os roseirais!

OS CORAÇÕES CONTINUAM AZUIS



Respiro
Vivo por entre as extremidades
De seu ser
Sem que vejas.
E encanto-me
Como um tritão rústico ao sol
Com medo
Viver é mesmo uma contemplação
Uma fábula de qualquer imaginação.

Invagino-me
E, dentre tanto ar me refaço
Respiro novamente
E esmoreço.
Sempre ganhas no final,
mas contigo não me canso de perder-me

e os corações continuam azuis!

I

se Amar
é coisa de mulherzinha
com fru-frus e frescurinhas,

eu mudo: escrevo Amor
e ponto!





II


______ Crendospade! Já viu isso? Tão falando que o amor tá no fim.
______ Avemaria! Tasca-me logo um beijo!
Benza, encruza... vá de retro nessa via!!




III


Como o amor é trouxa:
Espera
Espera
E contenta-se com cada coisa!

Como o amor é tonto:
Enrola
Enrola
E confunde-se em cada ponto!

Como o amor é besta!
Esconde
Esconde
Pra que todos vejam

Como o amor é lerdo:
Corre
Corre
E nuca está perto!

Como é trouxa, tonto, besta e lerdo o amor
Mas a gente prefere sempre amar e pronto!


IV

Amo-te
Só isso basta!
Só essa palavra!
Amo-te
Mais nada!

ANÁLISE


sou o véu
do oco
que bate
rebate
e volta a si
e és tudo
e nada.

o oco
não fala
só dá
         eco
                eco
                       eco

dentro de ti
deitada
no divã!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

SABEDORIA



sou um estudado
metido à besta
sou um sertanejo
metido na besta
           da ignorância tão sábia
de não saber nada
           e conhecer à granel!

quarta-feira, 11 de maio de 2011

entre o
escuro
do pensar
e o
obscuro
do amar,
alguns
obstáculos.

[há eclipses por todo canto]
unidosvenceremosunidosvenceremosunidosvenceremosunidosvenceremos unidosvenceremosunidosvenceremosunidosvenceremosunidosvenceremos
unidosvenceremosunidosvenceremosunidosvenceremosunidosvenceremos


OPOVOUNIDOJAMAISSERÁVENCIDO!OPOVOUNIDOJAMAISSERÁVENCIDO!


AMOR EM EXASPERAÇÃO

eu habito
nas reticências das frases de amor,
no mal terminado sonhos
dos apaixonados,
nos devaneios.
repouso minha tez
na alegria do bem lembrado,
nas reminiscências
de anos em flores,
nos cheiros, nos sabores
no intercalado.

eu conspiro
contra a lágrima caída de horror
contra o susto dos abandonos
dos desesperados;
contra a dor.
e revogo meus votos
de crescer, crescer e amar
e por amar mais, sofrer
sonhos aos arredores
vãos, como os dissabores
e não querer acordar.


eu sou o espaço onde reina a ilusão
o espaço entre o sono e o sonhar
da criança o seu brincar
eu sou a escuridão
prece muda de alguém rezar
canção de ninar
chama acesa de algum penar



eu resido
entra a retina e o clarão
sou a seiva bruta da planta
consubstanciando luz em pão,
sou do ar a transformação
sou a voz da vida.
íntima como a pele a roupa
como a morte e a sua busca louca
eu sou o que há de estar
na imensidão
eu sou o que dá vida à solidão
eu sou todo amor
                  em exasperação!


CONTORNEMOS

                        OS

                    MAIS

RECÔNDIDOS

MOMENTOS

                   PARA

QUE

NOS

LEMBREMOS

                       DE


AVANÇAR




ANTE

OS

TORMENTOS.

POEMINHA


se chovesse o dia todo
mesmo assim eu sairia
pra ver o amor de tardezinha
andando ´inda sozinha

[só oiar,
oiar e só]

pelas ruas de minha trilha
amar, bem mais, de longe
nesta minha calmaria

se chovesse o dia todo
mesmo assim eu sairia!

A MENTIRA



a morte ronda
o musgo alisa
a malha aquece
o manto cobre
o mato corta
o monte rola
a missa em prece
a mão corrompe
o medo cresce
a morte ronda

a mente mente
a mente mente
a mente mente
a gente mente
a gente esquece



sexta-feira, 29 de abril de 2011

NARCISO

a imagem refletida ali
sou eu e o mundo
       [figura-fundo]

se vejo o eu, não vejo mundo
se vejo o mundo não me vejo

invejo-me de tudo
e afogo-me de mundo

eis agora uma só figura:
       eu-mundo,
e no entanto,
não mais resta nada mais
morri para o mundo
e o mundo pra mim.

[eu sou o mundo todo, em mim]



Metamorfose de Narciso - Salvador Dali

O TEMPO

                         sobre o poema de Juliana Ciciliati





eu não quero saber
da finitude
ou da
infinidade do tempo

não quero o indecifrável
quero o incognoscível

nem tampouco quero viver
como quem sente
ou define
quero multiplicações

[indefinições
infinitas ações]

eu não quero saber
se a amor valeu
ou se
acabou em flor

não quero o imperecível
quero o imponderável

e,
se há dor
se há horror
se há amor
sossego-me
e deixo passar

[o tempo cura as feridas]


eu não quero saber
da finitude
ou da
infinidade do tempo

do tempo eu quero
o incognoscível
o imponderável

[do tempo eu quero
a plenitude]
e, se houver alguma eterna espera
eu espero





terça-feira, 5 de abril de 2011

QUESTIONAMENTOS POÉTICOS

Por que não posso
escrever sonetos
em versos livres?
Por quê?
Se as estrelas não se calam?

Minhas lágrimas
e cicatrizes
ancestrais de sua prosa
- que ´inda ardem em meu corpo
são minha carta de alforria.

Vão de retro...

UM SAMBA-NOVO


nas encruzilhadas étnicas
em que repouso minha face
          enquanto durmo,
- aos sóis de meu país,
enluarado de meu povo -,
sonho com um samba-novo
que nos reaviva a paz.

metáforas de rodas,
          festejos,
algumas memórias,
cantigas de canaviais.
que interpenetram nas fábricas,
          nas construções,
que sejam passados pelos celulares
como mensagens subliminares
pelos mêntruos de minha nação.

quero um samba-novo
que paire sobre os intervalos
          das escolas
compostas pelos poetas populares
e, que seja também de trovas
folias-de-reis, rappers
          e eletro-music

que liguem as teias sutis de minha canção
pra que a poesia não seja só distração
pra que haja ventos e sóis em toda parte

eu sonho com um samba-novo
fora das academias, mas nas ruas
cujos sonetos possam ser livres
          como a vida
e eu não haja mais escravidão
sonho com um samba-novo
nascido em cada casa
fruto das alcunhas de suas linhagens
inventando sempre novas linguagens
          e novos jardins
nas encruzilhadas éticas
          em eu me fiz




EU NÃO SEI NADA DO AMOR

Das tantas imensidades
que iluminam o céu por toda parte
e inauguram metamorfoses,
eu caminho vagaroso.
Tonto, quase.
Entre uma que arde
e outra que foge.
Eu não sei quase nada do amor
e, no entanto,
teimo por cantá-lo,
rabiscá-lo em algum lugar do interior,
e difundi-lo parte a parte.
Eu não sei nada do amor,
mas também não sei nada da flor,
não sei nada do mar,
não sei nadica de nada de mim.
E, no entanto, vivo.
Vivo como passarim,
beija-flor que sou, e, vez em quando viro o mar.
Sonso sou de tanto amar.
E desamo.
Esse desânimo que me anima:
o oco oculto de mim mesmo.
Que é o amor senão o oco oculto
não mais ocultado,
escondido,
dilacerado,
evadido, antes de iluminado?
Quadro límpido de água e ocre.
Eu mesmo ao derredor.
Eu mesmo amando.
Indo.
Pairando
sobre tantas as imensidades.
Cantando um amor que nem sei,
arfando uma dor que já sarei.
Eu não sei nada do amor
mas é preciso sabê-lo, para amar?


a sabotagem
do homem
ao
homem
é pensar ter
um
eu e ser
s-eu



Cuido das palavras
como quem cuida das crianças
ou das flores.
Dou-lhes brinquedos e amores
malhas pras suas manhas
e manhãs, para flori-las.

Eu me emociono
ao vê-las rindo,
dormindo,
sonhando algum devir,
dever de ir algum lugar ao sol
só pra sonhar.

Cuido das palavras
como quem cuida das crianças
ou das flores.