sexta-feira, 29 de abril de 2011

NARCISO

a imagem refletida ali
sou eu e o mundo
       [figura-fundo]

se vejo o eu, não vejo mundo
se vejo o mundo não me vejo

invejo-me de tudo
e afogo-me de mundo

eis agora uma só figura:
       eu-mundo,
e no entanto,
não mais resta nada mais
morri para o mundo
e o mundo pra mim.

[eu sou o mundo todo, em mim]



Metamorfose de Narciso - Salvador Dali

O TEMPO

                         sobre o poema de Juliana Ciciliati





eu não quero saber
da finitude
ou da
infinidade do tempo

não quero o indecifrável
quero o incognoscível

nem tampouco quero viver
como quem sente
ou define
quero multiplicações

[indefinições
infinitas ações]

eu não quero saber
se a amor valeu
ou se
acabou em flor

não quero o imperecível
quero o imponderável

e,
se há dor
se há horror
se há amor
sossego-me
e deixo passar

[o tempo cura as feridas]


eu não quero saber
da finitude
ou da
infinidade do tempo

do tempo eu quero
o incognoscível
o imponderável

[do tempo eu quero
a plenitude]
e, se houver alguma eterna espera
eu espero





terça-feira, 5 de abril de 2011

QUESTIONAMENTOS POÉTICOS

Por que não posso
escrever sonetos
em versos livres?
Por quê?
Se as estrelas não se calam?

Minhas lágrimas
e cicatrizes
ancestrais de sua prosa
- que ´inda ardem em meu corpo
são minha carta de alforria.

Vão de retro...

UM SAMBA-NOVO


nas encruzilhadas étnicas
em que repouso minha face
          enquanto durmo,
- aos sóis de meu país,
enluarado de meu povo -,
sonho com um samba-novo
que nos reaviva a paz.

metáforas de rodas,
          festejos,
algumas memórias,
cantigas de canaviais.
que interpenetram nas fábricas,
          nas construções,
que sejam passados pelos celulares
como mensagens subliminares
pelos mêntruos de minha nação.

quero um samba-novo
que paire sobre os intervalos
          das escolas
compostas pelos poetas populares
e, que seja também de trovas
folias-de-reis, rappers
          e eletro-music

que liguem as teias sutis de minha canção
pra que a poesia não seja só distração
pra que haja ventos e sóis em toda parte

eu sonho com um samba-novo
fora das academias, mas nas ruas
cujos sonetos possam ser livres
          como a vida
e eu não haja mais escravidão
sonho com um samba-novo
nascido em cada casa
fruto das alcunhas de suas linhagens
inventando sempre novas linguagens
          e novos jardins
nas encruzilhadas éticas
          em eu me fiz




EU NÃO SEI NADA DO AMOR

Das tantas imensidades
que iluminam o céu por toda parte
e inauguram metamorfoses,
eu caminho vagaroso.
Tonto, quase.
Entre uma que arde
e outra que foge.
Eu não sei quase nada do amor
e, no entanto,
teimo por cantá-lo,
rabiscá-lo em algum lugar do interior,
e difundi-lo parte a parte.
Eu não sei nada do amor,
mas também não sei nada da flor,
não sei nada do mar,
não sei nadica de nada de mim.
E, no entanto, vivo.
Vivo como passarim,
beija-flor que sou, e, vez em quando viro o mar.
Sonso sou de tanto amar.
E desamo.
Esse desânimo que me anima:
o oco oculto de mim mesmo.
Que é o amor senão o oco oculto
não mais ocultado,
escondido,
dilacerado,
evadido, antes de iluminado?
Quadro límpido de água e ocre.
Eu mesmo ao derredor.
Eu mesmo amando.
Indo.
Pairando
sobre tantas as imensidades.
Cantando um amor que nem sei,
arfando uma dor que já sarei.
Eu não sei nada do amor
mas é preciso sabê-lo, para amar?


a sabotagem
do homem
ao
homem
é pensar ter
um
eu e ser
s-eu



Cuido das palavras
como quem cuida das crianças
ou das flores.
Dou-lhes brinquedos e amores
malhas pras suas manhas
e manhãs, para flori-las.

Eu me emociono
ao vê-las rindo,
dormindo,
sonhando algum devir,
dever de ir algum lugar ao sol
só pra sonhar.

Cuido das palavras
como quem cuida das crianças
ou das flores.


Só.
Só eu.
Só.
Só.
Só eu.
Só.
Só.
Só.
Só eu.
Só.
Só eu,
Só.
Só.
Só.
Só eu.
Só.
Eu.

CARIOCAS






Os cariocas são lindos
de manhã.
São plenos de manhã
e de noite também.
Ah, se eu tivesse amor
como têm os cariocas,
eu não negaria em flor
ao meu bem.
Cariocas são bonitos
de manhã
e de noite também.
E o Brasil se encanta ao Rio.
Beleza plena o infinito
suas peles de ouro e bronze e
seus sonhos em forma de favelas.

Oh, os meninos do Rio
Oh, as garotas de Ipanemas

Ah que tanta beleza tem...
Quero, quando crescer, amar um amor no Rio também.


DESASSOSSEGO DE ROMUALDO

                                                                                 poema pensado a partir de um poema de Rita Apoena

Romualdo:
___ Qual será o substituto do amor,
quando o amor se acabar?

* [quando se acaba o amor, um friúme empodera o homem sua face mais oculta e nem Deus, nem o Cão, nem vodunce nem qualquer outra imensidão importa. Só alguma escuridão de total desânimo qual bixeira lhe consome e qualquer pranto e, qualquer encanto se esvai no sem fim de si. Quando se acaba o amor, a beleza do mundo some e, cego vaga o homem na esperança de nada mais encontrar: nem flor, nem terra, lagrima ou mar. Quando se acaba o amor resta a morte atéia, ponto-cruz fechado em si e, nenhum descanso, só lamento e algum desassossego sem pranto].


Joana:
___ Quando se acabar o amor?
A gente inventa outro amor, ué!


 
faminto
famigerado
exageradamente
fascinado
minto

há alegria em mim.