segunda-feira, 21 de novembro de 2011

A POESIA PASSA PELA GRADE (poema encarceirado num presídio feminino)

frio
nubla cor opaca
de alguns olhos
frívolos

julgaram-na pelo que é,
e a libertaram ao que não é

e a poesia
paira
muda e nua
feito estátua de sal
neste imenso lamaçal
de confusões e sopros

na ânsia cega de ser alguém
nesse imenso vasto vão de mim
aquém
nega-se e negam-na

das grades não passa o amor
enobrecem sonhos
as dignidades
as sobriedades

pelas grades não entra o pão
o perdão
a indignação de algum sol
só a solidão de um amanhã sem paz.

[mas há rumores de alguma alegria]

só a poesia passa pela grade
carregada de luz e som
cânticos na escuridão
... e suas humanidades.

só a poesia passa pelas grades

Um comentário:

  1. José Valdez de Castro Moura24 de dezembro de 2011 às 20:14

    Thiago,somente a visão de um Poeta que sofre com os horrores da prisão feminina,onde morrem tantos sonhos e ( por vezes) viceja a injustiça traz conforto par quem espera por dias melhores.Que a sua Poesia ultrapasse as grades e levem um pouco de humanismo para quem necessita da nossa compreensão e de oportunidades.Emocionei-me com o Poema.

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