quinta-feira, 26 de janeiro de 2012


Simplesmente,
          desisti de ter razão.
Não que tenha me conformado com as injustiças,
que tenha deixado de me assombrar com as misérias
          - as misérias sociais e as da alma.
Nem que tenha me acostumado com o poder
que alguém supõe ter sobre outros.

Não.
Não me conformo.
Não me formo com as formas dos hipócritas e esdrúxulos.
Não estou com eles.

Ora, algumas pessoas, por mais loucas e doentes,
          continuam invisíveis.
Alguns problemas, por mais fáceis de solucionarem,
          continuam desprezados.
Algumas fomes, por mais emergentes e cruéis,
          continuam deixadas de lado.

Mas eu não quero ter razão.
Achar que tenho alguma razão nisso tudo.

Se não passo ao largo dos meninos nos faróis,
se não prendo a respiração quando me atravessa um mendigo
          mijado todo de nossas certezas e belezas,
e se não acho os criminosos os demônios sobre a terra,
          - não quer dizer que eu tenha razão.

Vai ver que eles estão certos mesmo.
Que vale tudo isso, se nada muda?
Que vale o sorriso para a velha preta e pobre,
a atenção para o chato de galochas,
respirar a própria putrefação que os mendigos mostram
e acreditar no sonho?

Mas não.
Eu não faço parte disso.
Eu sonho com algum azul.
Eu acredito na saúde e no trabalho,
nas decências e no baralho
na verdade de cada um.
E se me mostrarem os abismos,
os interstícios dos caminhos mais sombrios,
mesmo assim eu rezarei para não me desiludirem.

Deixem-me só, com minha ilusão.
Com a minha fome de alegrias.
Com meu egoísmo transformando-se em guias.
Com minha exasperação.

Mas eu não quero mais ter razão,
Pois enquanto brigo por razão,
alguém sente dor,
outro morre,
nasce algum amor,
ou flor.

Não,
Definitivamente, não quero ter razão.
Quero ter mais ação.
Multiplicação.
Ilusão.
Toda a imensidão.
E silencioso como renasce o dia,
          fazer um curativo, rezar uma ave-maria,
          respeitar alguém só por sua vida
          tentar aprender a amar.

Não!
Eu não quero mudar o mundo
E nem quero ser bom. Não o sou.
Só quero esperar que ele possa me mudar, um dia,
E haja mais abraços e flores pelas ruas.
Haja menos desconsideração.







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