(sobre um conto de Onjaki)
inexoravelmente acordo
com o solavanco infrêmito de forças extremas
sobre mim.
e o odor...
o odor civilizado grotesco
perfume-suor-cigarro
(seria free ou malboro?)
eu, que deitada no chão
sobre os sonhos da minha realidade,
que acordo com o susto dos dias
co’as horas infindas
da morte,
acordo no íntimo brusco da noite
com o açoite
me sufocar
arfar.
suas mãos sobre minha boca,
em meus lábios de cima e baixo
em movimentos marítimos
a me imobilizar,
intimidar.
súbito livra minha boca, já não grito
ardo.
imóvel,
no duro dos papelões do chão,
no quieto da noite
sob o mundo, ardo.
e dói.
e da dor um gemido
consubstanciado em fome e sonho
me elevo e não grito.
... e o cheiro ocre civilizado ventando em mim
sobre meu pescoço sem perfume
- que no entanto cheira -,
entrecruzam cheiros genéricos
das entranhas ferventes do instante .
misturam-se os cabelos.
suores.
no íntimo do silêncio
arrepiam pêlos
como se o próprio deus sobrevoasse
rasamente
sobre os campos da terra, meu corpo.
não há mais visão
só o bafo ocre civilizado sobre mim
e eu imobilizada
penetrada e entregue pela sagacidade,
pela luxúria frêmita do mundo.
haveria outros ao meu lado, companheiros de chão.
- não veriam, absortos que estavam
à própria mediocridade, à própria escuridão -.
... e os movimentos marítimos me imobilizar...
dói.
uma dor do prazer.
antes tivesse levado porrada
antes tivesse tomado cachaça,
mas não.
absorta ante a vibracidade do corpo
jazo arreganhada e evadida.
uma lágrima escorre,
cai sobre meu rosto,
contorna os territórios de mim
e, chega à beira da boca
lambo-a.
sal da terra.
já não sei se é lágrima ou suor,
minha ou dele.
- que importa?
somos um neste instante no mundo
civilizado e impuro
puro imobilizado
e somos tantos -.
... deus continua percorrendo as terras
rasamente...
e os pêlos se levantam
sem demarcar qualquer organismo,
parte, mapa.
vaga indiferentemente sobre mim
bloco imóvel de carne ressuscitada
(in)sucitada e (ex)citada
de alguma emoção qualquer.
clamor, calor, claridade e dor.
... súbito pára.
continuo imóvel.
o desgrudar-se de mim é penoso.
suores,
cheiros,
lágrima
sangue,
a civilização se levanta
vejo-o em sombra, esguio.
eu, continuo imóvel.
escorre-me.
lágrima
suor,
sangue,
porra
misturadamente,
e continuo vendo-o em sua sombra.
escorre-me o produto da civilização
que (con)sumo
escorre-me a lembrança do cooptar-me,
cooptá-lo.
escorro-me.
ele corre.
pára. olha para trás.
continuo imóvel.
como que culpa ou nojo,
uma cusparada no chão em que sou.
escarro-me em vidas.
suavemente.
re-sinto-me e viro de lado.
fecho as pernas.
acabou.
no duro do chão
no quieto da noite
sob o mundo,
já não ardo,
só dôo.
com meus papelões
papelotes,
espero acordar-me ao susto dos dias.
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