Aprendi a falar de amor com as flores e os pássaros
ao diálogo fonético imperceptível que se acariciam;
com um enxame de abelhas que o dulçor produziam
e com o bailar dos trigais ao som dos ventos mágicos.
Aprendi a reconhecer o amor nas primaveras
quando a terra se enfeita em flor p´ra recebê-lo;
e a confiar no amor feito a ovelha e o novelo
aquecendo o mundo, o frio... e ser nudezas.
Aprendi a gostar de amor, foi com meu pai
que mesmo ante aos temporais de sangue e dor
morreu amando, amando e amando mais...
E eu quero amar, sentir o mundo todo em flor
e, pássaro eu, o adocicar e a proteger do frio
pois não há nada maior que ser, de si, em si, amor.
sábado, 27 de novembro de 2010
ASSOMBRO
(para alguém que anda me assombrando os sonos)
I
Você me assombra
feito fantasmas bons
a me confundirem
e eu gosto do caos!
II
entre você e eu
um tempo, um silêncio
transparente
que guardam os desejos
e os medos.
desejo beijá-la, e você a mim
e alguma trava
nos põe fim
entre seu-olhar-e-o-meu
um acalanto, afeto... e os momentos são tão incertos,
que assusta
fiquemos onde estamos
a nos olharmos, simplesmente
poupando-nos do fascínio
de sermos um-só-somente.
III
se os desencontros pedem
para que desistamos das possibilidades dos encontros
e, cansados, voltarmos
aonde já não mais nos resta estarmos
e se a confusão conclui
na conveniência da perversidade da obstinação
e, decepcionados pararmos
na decisão de se nos afastarmos
e se assim mesmo surgirem
tantas outras horas de um olhar entrecruzados de ardor
e, outras luzes apagarmo-nos
dificultando a tez de nos olharmos
rebelemos.
... hajam sonhos no íntimo da esperança...
... hajam socos na cara da destemperança...
... hajam possibilidades de uma criança...
e a arrebentação de mais um dia nos vermos
pois não há limites para o incognoscível!
IV
Perto de você eu falho
Emudeço
Tardo em amanhecer-me outra exatidão
E, no entanto, ardo.
Perto de você eu calo
Exalto
Queimo empalidecer-me alguma sensação
E, no entanto, migalho.
Perto de você eu falo
Espanto
Rubro (des)concertar-me, minh´ invenção
E, assim, renasço.
Perto de você eu sonho
paralizo
Brinco adulterar a minha fascinação
sem querer, apaixono.
pois que há tanto mistério no feliz!
TRÊS POEMAS PARA A PEQUENA INARA
“e eu, e eu, e eu, e eu, e eu
e eu, e eu, e eu, e eu, e eu
e eu, e eu, e eu, e eu, e eu
e eu, e eu, e eu, e eu, e eu
sem ela?
(C.V.)
I
Inara, Inara
sua idéia paira
mas não cala
não cala
não cola
cola?
... que atormentação!
II
Se Inara calasse
não sonharia com ela.
Ela, tá ´li, tá me olhando
e eu ´inda acordado por ela!
III
___ Fui ouvi-la,
e agora?
___ Fui acreditá-la,
nos´ senhora!
___ Fui sonhá-la,
ai, minha nossa!
...
___ Dá o bote, cara!
sábado, 13 de novembro de 2010
SONETO DO ORGULHO QUE APRISIONA O AMOR
Não nos vemos mais... e, se nos vemos, não falamos
Um “oizinho” tão seco e frio como as tardes
Nossos olhos se nos atravessam, fazendo alarde
Querendo encontrar a nós, lá onde não estamos.
Um suspiro arrebata, arrebenta e explode, voraz
E que querendo tocar sua mão com minha mão
Mas não... um abismo nos atravessa em desunião
E eu me escondo detrás do orgulho tão fugaz
Você querendo lançar-se em meus braços com exasperação
Refreia incólume ante o orgulho que aprisiona o amor
“Não... eu que tome algum passo em sua direção!”
E seguimos os dois, a passos largos, outros caminhos
Tristes, nos furtando de todo algum nosso carinho
Mas inteiros, guardando o orgulho besta de não ter cedido.
Um “oizinho” tão seco e frio como as tardes
Nossos olhos se nos atravessam, fazendo alarde
Querendo encontrar a nós, lá onde não estamos.
Um suspiro arrebata, arrebenta e explode, voraz
E que querendo tocar sua mão com minha mão
Mas não... um abismo nos atravessa em desunião
E eu me escondo detrás do orgulho tão fugaz
Você querendo lançar-se em meus braços com exasperação
Refreia incólume ante o orgulho que aprisiona o amor
“Não... eu que tome algum passo em sua direção!”
E seguimos os dois, a passos largos, outros caminhos
Tristes, nos furtando de todo algum nosso carinho
Mas inteiros, guardando o orgulho besta de não ter cedido.
DESFLUXO
O REFLUXO DO VÔMITO DA CRIA
RECRIA OUTRA CRIATURA
O DESFLUXO DO CORTE DA VIDA
DESVENDA OUTRA FANTASIA
Re-in-vi-vida
SE O INTERVALO DO TEMPO DO SONHO
INTERSONHA OUTRA UTOPIA
E O SUBTERFÚGIO DO PASSO DA FUGA
REFUGIA OUTRA ILUSÃO, DESSIMETRIA
Boca-mamá-vômito-choro
SONETO DA MANUTENÇÃO DA POBREZA (E DA RIMA)
Convido a tristeza pra me fazer companhia
Na noite mais fria ou a mais bonita.
Mas traz consigo alguma lembrança evadida
um amor que se foi ou canção esquecida
faremos versos com alguma folha caída
simples e feia como cidades poluídas
para olhos pobres verem suas vidas
suburbanas, rodeadas de lágrimas, ilhas.
Com seus ranhos, piolhos – a faremos esquisita -.
Repintaremos seus sonhos com negra tinta
E não me venham com rosas de Hiroshima
Pois não sairemos jamais cá de cima,
Se somos todos frutos da mesma vã rima.
JOÃO GILBERTO
(13/11/2010
Pinda
Ouvindo emocionado João cantar
a voz de joão
sobre a melodia
vento sobre trigais
[pra-lá-pra-cá]
feito deus sobrevoando
rasamente
na beira da pele dos homens,
levíssimo,
acalenta as dores mais doces do sentir
atormenta os prazeres mais vis do pensardesafina as linhas mais tênues do existir
e, no entanto, (re)inventa uma outra luz
a voz de joão
sobre a melodia
feito lua sobre o mar
onda de yemanja
clara têssera do amar
inundando
o silêncio das horas vividas
... silencio.
segunda-feira, 8 de novembro de 2010
Pode fazer o que quiser comigo
Sou pirata, cigano
não tenho rotas, nem cantos
sou engano
Dize o que quiser de mim
Já não flutuo, nem fundo
sou um passo aqui mais aquém
do mundo
Inventa uma qualquer mentira
Só uma só historiazinha
eu não escuto, nem clamo
sou mudo.
... mas no fundo, bem no fundo...
in-si-nuo!
Sou pirata, cigano
não tenho rotas, nem cantos
sou engano
Dize o que quiser de mim
Já não flutuo, nem fundo
sou um passo aqui mais aquém
do mundo
Inventa uma qualquer mentira
Só uma só historiazinha
eu não escuto, nem clamo
sou mudo.
... mas no fundo, bem no fundo...
in-si-nuo!
terça-feira, 2 de novembro de 2010
SÍLABA DE MIM
(pensando em Ondjaki – 2.11.10)Sentado em sonhos d’alguma realidade
Divago
Subo montes em pensamentos
Cesso potestades
Rio.
Ultrapasso os limites de minha cidade
E invento
Uma outra qualquer imensidade
Depois canso
E deito.
Quem me dera ter órgãos
Silabas de mim
Na grama rala de algum mar
Par me dar nomes, cores, rumos.
Dentro de mim sou o mar
Dentro do sonho sou mil
Dentro da noite, o silêncio
... e o cheiro da madrugada...
... sentado em sonhos d’alguma
realidade...
SONETO DO AMOR QUE ACABOU SEM SE SEPARAR
2.11.10
Pinda
Cessem todas as miragens de Andrógino de Platão
Parem todas as cantigas que amor revela
Devolvam-se, cada qual, a roubada costela
E entreguem-se aos descaminhos da ilusão.
Não cantem mais as canções de Roberto
Nem suspirem às nuvens alguma felicidade
Já se ouvem os murmúrios na infeliz cidade
Acordem do suave sonhar brando dum deserto.
É o amor que acabou... e que mal há nisso?
Não há terror, nem ódio, nem mentira
Face estúpida, mas sincera de uma vida.
Um amor que acabou sem se separar
Como tantos de tantos outros n’algum lugar
Mas guarda lembranças boas, em passos vãos.
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