terça-feira, 22 de fevereiro de 2011

POEMA-FLOR

   

eu só quero mesmo
fugir
fingir
infringir
afogar-me em alguma lágrima
e lançá-la ao poema
                    sem pena

desmatar os caminhos
correr
gritar
exacerbar
contentar-me com alguma sentença
de ser feliz
                     sem recompensa

e, se não houver amor
e, senão houver a dor
e, se não houver sequer uma
                                            flor...

eu só quero mesmo
reviver
renascer
consubstanciar
produzir novos instantes de paz
relançá-lo ao poema
                       e cantar


sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

TATU-BOLA

olha só
o tatu-bola
se enrola de costas
querendo se aprumar



se enrola
desenrola
pra lá e prá cá
pra desvirar



coitado do
          tatu-bola!



se tento ajudar
vira bola
depois se
desenrola
e volta
sempre de costas

coitado do
          tatu-bola!
querendo desvirar,
          mas se enrola!



 

POEMAS DE ALGUM ENCANTAMENTO

                  para Talita


I
há quem acredite em deus
          em ateus
há quem não sai de casa
sem seus horóscopo
          seu opúsculo
para uns a ciência é mãe
outros são filhos do acaso.
uns preferem armas
outros drogas, bombas, bandeiras.
uns bundas e ancas largas
outros, homens escondidos nas ruas.

eu prefiro a minha poesia
          e meu amor
que é meu deus mais ateu
          meu horóscopo,
minha arma e minha bandeira
minha droga, das mais verdadeiras
meu sexo e minha tristeza.

eu prefiro a minha poesia
dentre qualquer outra beleza
só para te dizer,

que continuas encantadoramente linda!




II
Olhos de iguana
Não iguais a Ana
Olhos de cigana
Não em uma cama
Olhos de quem ama
Seus olhos meus


III

súbito me lembrei de inara
como não se lembrar?
sua profecia soa em minha mente
como cantiga chata que impregna
como reza forte de preto velho
como a finesse de algum amor

súbito me lembrei você
suas mão tão delicadas
seu olhar que abençoa e tenta
sua doçura

eu não sei por quê
nem quê, nem quando
só sei que me
encanta quantas vezes te vejo
e se há destino,
a ele eu insisto
em ter você.
só pra mim.

súbito vou caminhado
esperando você desistir dos desencontros
desistir dos atrasos de sonhos
e me seguir.

quinta-feira, 17 de fevereiro de 2011

BOM ENCONTRO


enfim um café,
uma coca-cola
          o copo de gelo
um sol ardente
e seus olhos

enfim um até
até um dia qualquer
          encontro de raspão
chapéu de malandro
poemas de guardanapo

e eu são sei por que você olha o céu assim
como quem baila ao perfume do infinito
          e só uma cor existe
          e o mundo um pouco triste

quisera um pois é,
não sermos tristes
          nos consolarmos
a poesia nos acompanha
sem espelhos nem luz
só com faíscas e pus


... e você continua a bailar no perfume do infinito...


para a poetisa Carla Guerra

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

AGRADECIMENTO

para Valdez


Que dizer para um amigo,
ser grato ao seu coração?
Bem maior: tê-lo comigo
mais que um amigo, um irmão!

MANIFESTO ANTE A SOLIDÃO

para minha amiga Bel


o friume do destino
ou da noite.
a dor infrêmita de viver
não tem voz ante
a existência do ser.

então, por que
sub-estimar-se
e escolher
entristecer?
  

domingo, 13 de fevereiro de 2011

GISBERTA



uns travestis
um rio que passa ali
                logo ali
um samba-canção
na minha mão.

olhares de putas,
olhares de fetos
sem braços de mãe
e nenhum segredo à frente
                  avante!

entre desejos e medos
esses travestis e essas putas
                caminham
                acariciam
algum devir
algum dever
algum ser
se se ver
vier

gisberta morta no fundo do poço
algum alvoroço

e os dias continuam iguais
todos iguais nessa estrela
todos iguais nessa estrada
todos iguais quem maltrata

gisberta morta no fundo do poço
nenhum alvoroço

                   ... e o amor é tão longe
                   o amor é tão longe
                   o amor é tão longe...


 


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Gilberto Salce Júnior, ou melhor, a transsexual brasileira Gilberta foi assassinada na cidade do Porto, em Portugal, em 22 fevereiro de 2006. Antes, durante dois dias, sofreu todo tipo de violência verbal e física, mantida sob cárcere, por um grupo de adolescentes (entre 12 e 16 anos de idade). Um perito médico-legal concluiu que o transexual morreu vítima de afogamento e que as lesões que lhe foram alegadamente infligidas pelos menores não eram fatais. Gisberta se tornou o ícone da luta contra a violencia de gênero.

CANÇÃO DO RIO



Minha terra tem Flamengos
Onde canta um samba bom
As praias que aqui me banham
Não se encontram em outro lugar

Nossos morros mais favelas
Nossas ruas mais história
Nossos largos tem mais samba
Em nosso samba mais amores

Em cismar sozinho, à noite
Mais prazer encontro eu lá
Minha terra tem Fluminenses
Que encantam o Maracanã

Minha terra tem lagoas
Poluídas ou não, tão lindas
Tem garotas de Ipanemas
Bem mais belas que outras que há
Minha terra tem Corcovado
e o Cristo a abençoar

Não permita Deus que eu morra
Sem que eu volte para lá
Sem que sambe outra vez na Lapa
Veja os meninos de arrepiar
Sem que veja o Fluminense
Fazer o Maraca arrebentar.


sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

CARTA DE APRESENTAÇÃO

Em memória de Carlos Drummond de Andrade, Deleuze/Guattari,
 Regina, Gisberta, Chico Buarque, Dilma Russeff, Paulinho da Viola,
Tom Zé, Lígia Clark, José, Maria, Gonzaguinha, Pedro,
Ana, Rita, Joana, Paulo, Francisco, Iracema...




I
apresento-te um condenado.
um condenado a ser piegas.
afinal, porque todo amor tem de ser
piegas?
tem de ser um escafandro
          de bem quereres
banhado pela aura prateada da lua?
por quê?
apresento-te um piegas.






II
apresento-te um vagabundo.
desses que emprestam dinheiro da amada
e quando o amor acaba
não a paga
para ela lembrar de si.
afinal,
uma pitada de raiva e uma sensação de ingratidão
são das mais boas lembranças de um
                    amor.
“que deus me livre dos vagabundos”


        





III
apresento-te um poeta
não desses drummond´s, camões...
                     que fazem versos
como se fossem filhos do infinito
não.
apresento-te só um pobre coitado
sambista que empresta a rima
às noites pobres, quentes, quase infernais.
quem empresta as rimas aos pernilongos a
            azumzear
no ouvidos das gentes.
desses que não chega à academias nunca
por querer devanear nos poemas
o peso das construções.
“prumo e métrica – deixemo-los para as construções!”
apresento-te um pedreiro!

   





IV
apresento-te um brasileiro
falando errado, escrevendo mal
errando nas concordâncias verbais.
“mas ora, vejam,
pra que acertar nas concordâncias verbais
                                            dos textos
se me entendo numa conversa com meu
compadre: concordância verbal!”
afinal,
criar filho é ter inteligência,
levantar cedo é ter saúde,
fazer patuá é ter deus no coração.
só o que basta:
“e eu vou lá querer saber de concordância verbal?”


  





V
apresento-te uma mãe
não dessas que têm babás
mas as “bobas”, que todos apontam
nas filas das penitenciárias.
que têm os bolos virados farofa
e a dignidade fitada de cócoras.
uma mãe
       - e mãe é sempre mãe -
com babás, ou com bolos, bobas
acordando de noite para cobrir os filhinhos
nas manjedouras
       - mãe é sempre mãe -,
arreganhada ao peso dos vértices
dos sonhos dos filhos, e, sorrindo.
apresento-te uma mãe.






VI
apresento-te uma moça,
ou um moço, se a lei preferir
dessas que nas esquinas, têm seios fartos
                              e peruca loira
que têm coragem de burlar os
enunciados castradores do desejo
do devir além da reprodução
e ser cidadão, sendo a-cidadão
ah,
se lhes jogassem flores ao invés de pedras
os senhores casados que lhes pagam seus serviços
na calada das noites;
ah, se lhe jogassem flores
poderiam construir tantos enormes jardins.
apresento-te uns travestis.










..........
piegas, vagabundo, poeta, brasileiro, mãe e travesti.
           apresento-te um ser humano!

SEMPRE LINDEZA

um poema piegas como o amor, para uma lindeza


se toda palavra é encanto
e todo encanto, delicadeza
eu prefiro despetalar uns sonhos
pra enumerar incontinenti sua beleza.
flor bela por aparecida
mais linda que qualquer uma que exista
mais doce que desfrutar a vida
seus cabelos loiros, olhos por melodia
encantam-me com tal mestria
que emudeço.
suas mãos;
sua tez.
tê-la
talvez,
na imensidão,
ser entre o sim e não,
buscar todos os endereços
e ser feliz por sonhá-la e ter seus beijos

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

CAMINHOS

caminhar,
caminhar,
caminhar sempre.
mesmo com o peso das culturas
curvando nossas costas.
mesmo tropeçando nos enunciados
que nos fazem palhoça.

caminhar,
caminhar,
caminhar sempre.
encontrar nas trilhas do incognoscível
desmatar sentidos nulos no
nunca d´antes percebido.
alimentar sonhos-ilusões.

caminhar,
caminhar,
caminhar sempre.
e se faltar comida,
e se faltar bebida,
e se faltar a fé
e se faltar axé
e, mesmo se faltar a cama,
alguém que se te ama
nos redemoinhos dos vazios,
caminhemos.

caminhar,
caminhar,
caminhar sempre.
e não parar de caminhar.
 



deita aqui.
descansa.
deixa eu tirar-lhe os sapatos,
que eu teci-lhe um manto
pra lhe cobrir.
dorme de mansinho.
devagarinho.
deixa eu te banhar com meus cheiros e carinhos.
deixa eu te limpar.
sonha com brancas espumas
que do meu mar lhe dou
e olhe para todas as outras
derrama tua bondade, tua maldade
e sorria, meu bem
para um mundo em paz.



PALAVRA-POESIA-LÍNGUA-FESTA-SONHO


Guimarães Rosa, Valdez, Museu da Língua Portuguesa, Lapa,
Gullar, Douglas, Bichuetti, Haroldo de Campos, Maria Bethânia e
Pindamonhangaba.






        


I







brincar com as palavras
feito vídeo game
pisar nos poemas
senti-los
criar fonemas
destruí-los sem pena
brincar com as palavras















II



construa
construa
construa
construa
construa

Mestre de obras de Devires
deveras fosse sonho
devindo, indo, parado
nu e calado
no meio do infinito
Devires de obras de Mestre

menstrua
menstrua
menstrua
menstrua
menstrua





     






III








des
                                                                                               trua
                                             cons




DES[cons]TRUA
prefixos. tudo são prefixos.














IV


arranhacéu
quiumbo
mendioca
loboguará
pindamonhangaba
roolingplay
abajour
acarajé
pitangueira
santiago
correcorre
pavão
jardim
abaporu

arre, chega disso!
             chega de pesquisar no google.








V


      


haroldoinventalínguas*gullarvomitasonhossujos*rosaenfeitaopaudaspalavras*joãocabraldemellonetoclassificapãesepias*lobatofantasiaemíliascomunistas*talamadodeogumcompadre*bethaniacantapoemasecarcarás*elispectorangustiadaealérgicadeamar*
amaralínguaqueharoldoinventacommeupovo

          

VI


tropeçar nas palavras
           sem poder cair,
quase sem querer.
brincar com os poemas
          comê-los
          incorporá-los
pelos poros da pele
fazê-lo arma
          beliciá-lo
          beliscá-lo
como pasteis e nossas cervejas
          chutá-lo
          sambá-lo
          amaldiçoá-lo
          beijá-lo
          amá-lo
como a moça
como a mãe
como os rapazes
deixá-lo solto ao meio dia
na avenida silva e silva
          e redesenhá-lo
abandoná-lo como jornais velhos
e latas de crimes nas calçadas

e que os buarques os recolham
          ou os garis
e, compreendendo-os em seu mistral
sambem sambando ao carnaval
                                                                       e nada mais.



 
VII




rebolo
faço redes
pinto e bordo.

sobre o balcão
da praça

depois estendo meu chapéu
quem tem põe, quem não tem tira
            e distribuo meus poemas.






VIII



                                                      o               amor
                                                                       ruma
                                                                       rumo             a
                                                                       roma.
                                                                     arruma            uma
                                                                      roupa
                                                                        rica              e
                                                                       rente             e
                                                                       rijo               a mim
                                                    me            respira,
                                                     e                 ri.
                                                   eu                 rijo               e
                                                                      rente              lhe
                                                                  arreganho.
                                                     o               amor
                                                                        ri.

                   
                                                       ... depois sai a brincar com outra letra!









IX





cal
cimento
sonhos

tijolos de pensamentos
e mil e um amores
e mais cimento

CUIDADO, ESTAMOS EM OBRAS!



   




X





palavrear o amor
amarelar a dor
adormecer a flor
          florir a manhã.

amanhecer o pudor
podar o dissabor
saborear o horror
         honrar a manhã

poetizar a manhã
criar sempre novos jardins.