domingo, 3 de janeiro de 2010

CORTEJO FÚNEBRE DO PEDREIRO

Um pedreiro morreu à bala.
Só o comerciante viu.
Fechou o bar às 10 da noite,
chegou em casa às 10 e 15,
telefonou pra PM e contou.

A polícia foi e prendeu o matador
que era traficante no Morro do Cantador.

Como um rei para os seus
saiu às lágrimas e resmungos plebeus.

A polícia foi e matou o matador
e o povo se indignou.

Botou fogo no bonde
Botou fogo no bar
Botou fogo no fogo

Botou fogo na droga e fumou.

Noutro dia saiu com faixas
de que a polícia foi quem matou.
Veio sogra agradecida,
vizinha que conhecia a tia,
Jornal Nacional e curioso chegou.

A moça do jornal escreveu
e o povo leu e esqueceu.
E tudo se moderou quando a noite chegou.

O povo do morro elegeu novo rei
e o tráfico continuou.
A polícia continuou.
O fogo continuou.
E as mortes continuaram
mesmo depois que as pessoas passaram
no cortejo fúnebre do pedreiro
que nem túmulo de tijolo tinha.

O jornal
amarrou as margaridas que enfeitavam o caixão.

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