quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

A ROSA E O PASSARINHO



para Deise (2007)


Era uma vez uma rosa e um passarinho.
A rosa, como todas as rosas, era bonita e vinha de uma roseira rodeada por rosas também belas, que atraía a si a atenção de todos os seres, todas aos outras flores queriam ser como ela, os pássaros a admirava e as mais insensíveis pessoas, diante dela, de emocionavam. Os insetos de toda ordem, queriam buscar nela a sua doçura e o néctar, e ela era o alvo predileto dos beija-flores.
Essa rosa, da qual falo, era vermelha e há nas rosas vermelhas uma peculiaridade que as diferencia das outras rosas: as brancas, amarelas rosas. O vermelho de suas pétalas corresponde à sua sensualidade, evidencia sua beleza e também o seu temperamento. As rosas vermelhas não são calmas, tranqüilas como as rosas brancas e nem tão sorridentes e sonsas como as amarelas e, tampouco meiguinhas chatas como as rosas, mas também não são esdrúxulas e estúpidas, pelo contrário, pois, se assim fosse não seriam rosas... As rosas vermelhas são aquelas de uma beleza admirável, - afinal simbolizam a paixão e são os fetiches das apaixonadas – contém uma força temperamental inigualável, que sabem se impor quando necessário sem perder, contudo, o encanto das flores.
O passarinho, por sua vez, fazia parte do grupo dos pardais, e os pardais são comuns, como os Silvas.... Não têm a beleza das plumas das araras, a charme dos tucanos e nem sabem cantar docemente como os canários, bem-te-vis ou uirapurus. Na verdade esse era até meio desajeitado, preguiçoso até; era só encostar a para nas coisas que logo as derrubavam, aproximava-se dos outros seres e sem querer os feria com seu bico grande e suas patas pontudas, por isso tantas vezes, permanecia-se à distancia. Mas era muito inteligente e observador esse pássaro, e muito sensível também... vai ver era por essa sua tamanha sensibilidade que o fazia teimoso... quando não gostava de alguma coisa, já ficava de cara amarrada e logo xingava, brigava, mas quando gostava, se derretia todo, deixava até se fazer de bobo dos outros, pois se preocupava demais, com tudo e com todos.
Um belo dia, esses dois seres, que moravam distantes de si, se encontraram. A rosa, teve que sair de seu jardim, da companhia de suas irmãs e mãe rosas, sendo plantada dentro de um vaso que inibia sua raiz, e foi trazida para uma cidadezinha para respirar outros ares, e aprender como funciona o viver. O pássaro também foi retirado do seu bando e trazido à mesma cidadezinha para a mesma finalidade e assim se encontraram. Instantaneamente se tornaram amigos, íntimos até, vai ver por causa da saudade que sentiam dos seus.
Ah! Como era bonita a amizade desses dois...ela via nele um companheiro leal e gostava de sua sinceridade e cuidado, pois ela cuidava muito dela e gostava de faze-lo. Ele, não via nela só a ardente beleza de suas pétalas, mas a sutileza que só existem nas verdadeiras rosas, o encanto que só tem as flores e algo mais que não compreendia bem o que era, mas que provinha do intimo do ser dessa rosa.
Eles se entendiam bem, conversavam, estudavam juntos, confidenciavam segredos, lembravam com saudades dos parentes distantes, se ajudavam mutuamente, mas vezes outras, tinham um problema. Quanto mais íntimos ficavam, quanto mais se aproximavam, mais se feriam uma ao outro. Não que quisessem agredir ou machucar o outro, mas isso acontecia frequentemente quando se aproximavam. A rosa acabava ferindo o pássaro por causa de seus espinhos, que vez ou outra até lhe tirava sangue... e lágrimas. Ora, as rosas não têm culpa de terem espinhos tão afiados, na verdade até precisam deles para sua defesa. Todas as rosas têm espinhos, algumas com espinhos mais afiados e maiores, ou que se evidenciam mais que outras, por exemplo: as rosas brancas, passam tanta calmaria que nem parecem que têm espinhos.... e algumas outras espécies os espinhos são tão pequeninos que nem se enxergam, mas os da rosa vermelha são grandes e muito notados. Seus espinhos são grandes, dizem, que é por causa de uma substância que dá a tonalidade das pétalas, e também, modificando as estruturas os fazem enormes, e são mais notados por que o vermelho das pétalas nos fazem lembrar de ferimentos e de sangue, então logo notamos os espinhos delas. É inconsciente! E essa rosa era assim, ficava até preocupada porque os outros já olhavam pra ela pensando nos seus espinhos, e sem querer ela ficou até estereotipada como bruta, que fere os outros, mas eram só os incapazes de ver a sua formosura que a viam assim. E esses espinhos, por vezes feriam o pássaro, que em algumas vezes sofria em silêncio, noutras se rebelava.
E o pássaro também, por seu bico grande e pontudo e seu modo de ser tão desajeitado, feria a rosa. O seu grande bico era fatal: era abri-lo e sem querer, e tantas vezes, sem nem mesmo perceber, feria a rosa no que ela tinha de mais belo... sua pétalas. E suas patas desajeitadas, seu modo desajeitado e teimoso de ser, também machucava-a.
Não era por mal que eles se feriam, na verdade os dois sabiam que a única coisa que não queriam mesmo era machucar uma ao outro, entretanto isso era inevitável. A rosa quando machucava o pássaro ficava amuada, quase murchava e de triste sua beleza até diminuía. O pássaro quando machucava a rosa e a via triste, quase morria de desespero e remorso e ficava recriminando o seu modo de ser. Mas é muito difícil, quase impossível mudar a própria natureza. As rosas sempre tiveram e terão espinhos e os pássaros, bicos grandes e patas brutas. O que poderiam fazer era tentar controlar um pouco seus espinhos e suas patas e bicos de modo que ferissem menos, ou ficarem muito distantes!
Decidiram então controlarem...
Se fossem outros seres, não tão sensíveis como os dois, que viam no outro o próprio íntimo, teriam brigado feio e se distanciado, acabando com a tão bela amizade, mas eles se gostavam pelo que cada um tinha de seu, pelo modo que eram e pelo cuidado e atenção que cada um tinha em relação ao outro.
Todos achavam a amizade dos sois a mais bela da cidadezinha e os dois aprendiam um com o outro a serem melhores, cresciam juntos e não valeria à pena ficarem chateados e mesmo se afastarem.
Aí partiram para tentar resolver esse problema. Como poderiam fazer se não podem retirar os espinhos, nem o bico grande? Pensaram, pensaram muito juntos e perceberam que, numa amizade, num relacionamento verdadeiro é preciso muito carinho, compreensão, paciência. Até um pouco de desentendimento, pois nem sempre se está certo e o outro não deve concordar com o erro do outro, não seria um amigo, mas um cúmplice, mas mesmo não concordando deve abraça-lo, compreende-lo e ajudar.
Compreenderam que cada um e um, cada um tem o seu jeito de ser e a sua própria natureza, uns com espinhos, outros com bicos grandes e paras pontudas que ferem, mas que esses ferimentos também são importantes, pois mostram a veracidade do sentimento que nos unem. Só sabemos o quanto o outro é importante para nós quando nos magoamos em dobro vendo-o sofrer, e cem vezes mais quando fomos nós que o fizemos chorar. A alegria também faz isso de modo equivalente, e deve existir numa relação com o outro em intensidade ainda maior, mas o sofrimento é inevitável e suas marcas possibilitam aprendizados.
Compreenderam então que teriam que suportar o modo de ser do outro que o outro não conseguisse mudar, os espinhos, bicos e patas, e se não conseguissem mais suportar, se estivesse machucando muito, eles falariam claramente um com o outro, para que pudessem ao menos tentar mudar de posição, algum comportamento, o tom de voz, as palavras, os toques, os olhares e muitas outras coisas que não dá pra descrever, e assim se tornariam cada vez mais melhores amigos.
E assim eles caminham... rindo, chorando, cheios de marcas dos machucados, mas felizes, confiando um no outro e, principalmente crescendo juntos.
Resta saber, contudo se um dia conseguirão, mais próximos, nem mais sentirem os espinhos e o bico grande e patas brutas um do outro....

Um comentário:

  1. Ontem mesmo estava lendo o livro que ganhei sobre essa história! Linda!
    Saudades dessa época!!!

    Beijos... Deise!

    ResponderExcluir